terça-feira, 28 de outubro de 2008

Infantilidade


Infantilidade





Crianças são e ainda seremos, quando velhinhos forem
Na insólita descoberta do quanto aprendemos
Galopantes fantasias sobre a matéria que queremos
Atónitas brincadeiras que nos assombram
O sermos tudo, o sermos quase, que vale tudo
Os nossos os outros e o mundo, o vento, o mar
O pasmar em si, o ocultar mudo
O dizer cheio de ventura, o profundo cismar,
Que nos enleva, sonhando a vida
Cheia de outras coisas impossíveis, de encanto
Ao adverso da contrariedade vencida
Que nos enchem de espanto.



Januário

Pensar Constança


28-10-2008

domingo, 27 de julho de 2008

Beati pauperis spiritu







Fogo
De lhes arrasar os sentidos retinia
Nas paredes dos quartos conjugais




Preferia
Não divagar aos molhos sobre as marés
Naufrago ansioso de embarcação




Molhe
Escancarado à intempérie do promontório
Eis que a fraga se dissolve em espuma




/>

Beati pauperis spiritu (1990 . excerto)

27-07-2008
Januário

sábado, 17 de maio de 2008

Excessiva vivência


Excessiva vivência farta permanece
O real purga do imaginário o transcendente
A vida, essa fica para quem nos esquece
E só a memória resiste colorida e mordente

Tudo se vai estuporadamente ao nada
Atiçar os fantasmas do esquecimento
À fortuna que é concedida e não dada
Sobra infrutífero e incapaz lamento

A ti, Deus, peço a tua ajuda, desesperado
A ser como outrora, inocente e não sabendo
O quanto aqui não quer ficar, estropiado
Pelas pequenas coisas que foi cometendo.


Januário

3/8/00

quinta-feira, 24 de abril de 2008

muito pouco ou nada


Muito pouco ou nada surge redentor
Do que nunca seremos,
Outro que nunca foi , há-ser
Carne viva fulgurante, ou pasmo patológico
De si mesmo enfermo de grávidas luzes,
Não enveredando pelos limites, mas circunscrevendo-os
Como labareda periclitante de se apagar
Cultivando a pastorícia do engate, um outro Ovidío
Que tornasse clássica a parcimónia de um outro tempo, que nunca se esgotasse
Na efémera roda da vida.


Januário

24-04-08

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

obeso de volúpia


Obeso de volúpia mitigada
Anelo de traumática infância
Quase nu vi a diversa debandada
Criar raízes, dos feudos vigilância
Vorazmente se recria, cosmopolita
Estranho devorador de si próprio
Interactiva os genes, qual romeira bendita
Patrulha a noite de olho ciclópico
Flame, flame teu coração
Sentimentos que não te acusem
De ti cheio, espontânea combustão
E cinzas, pó da memória não usem.




Januário


8/9/96