sexta-feira, 8 de junho de 2007

Insubordinação


Subsistemas da irracionalidade instalam-se
Comodamente nas franjas da situação
Em surtos pragmáticos de ocultação
Os desesperos purgam o substancial
Ao homem que cercado vê quanto está só
Entre infinitos muros que o cercam
Como uma volátil chama que se apaga
Abandonado ao surto das intempéries
Eis que comunga o princípio da insubordinação
Dispersando-se múltiplo pelo atmosfera
Que já não controla, perfaz um voto radicado
Na antropologia das heranças recebidas
Pela tramitação das gerações.


Januário Esteves

8-06-07

sexta-feira, 1 de junho de 2007

É tarde


É tarde, e o urbanismo confina o social
Todos juntos formamos ninguém
Sem sociedade requeremos bárbaros
De outros vintém, alarde de ameaça
Se vive em amarra a terra de ausentes
Munidos de casa e automóvel e mais
Um carrossel de coisas inúteis
De pão sem farinha, carne atrofiada
Peixe contaminado, vinho adulterado
Nada temos e o corpo é que paga
Quando a cabeça não pensa
Ou talvez se esqueça a dor quotidiana
Mas ela perdura e arrasa até os mais
Supostos convencidos, esses
Sentados em belas poltronas de mordomias
Satisfeitas, embonecrados de fazer o inútil
Sucedâneo que a infância incrustou
De abominável prazer, o eu satisfeito
O verme que de si próprio se alimenta
Nas minúsculas partes do ser
Reduz a tudo começar de novo.



17/03/01

(Debussy)