sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Lamber feridas


SEZURES




Noite de fráguas entreabertas no sonho
Ali me retive na encruzilhada do tédio
Obscuro de mim, à estrela mais alta
Retini o temor que habita
Em cavernosas ideias silentes
Mais não eram que gotas de orvalho
Que choram do Céu em prantos de luz
Na caprichosa via do instante
Tudo se fende em linhas rectas
De gravidade por sobre os corpos que envelhecem
Naquele dia mas não no outro que lá perdura
Algures, os primeiros gestos da infância permanecem.




Lamber feridas

Penalva do Castelo


Januário

09/11/01

A Religião









POUSAFOLES DO BISPO






Sabia-se por todo o povoado, o rumor
Que as paredes trespassava
Que o Bispo de dar tanto amor
Em confissões íntimas já contava
Um rebanho de filhos por toda a parte
Que às mentes não afinava (atinava)
A todos tinha agora em disfarce
Meter à força na colegiada.




Sabugal

(A religião)


Januário


17/08/01

O despeito


ESPITE




Notas de culpa endereçadas ao humano
Assumpta o existir nas trevas desconforto
Porque queremos irmanar o desengano
Fazem das nossas razões assunto morto


Nada lhes ocorre senão o umbigo cogitar
Carregam pesadas entropias assassinas
Periódicos brutos não sabendo amar
Inoculam as gentes de neurinas (urinas)



A despeito de nada querem tudo
Nem que seja só para doer o consumir
Do ser, com a alma que é seu escudo
Para eles se tanto nos valer, rir.




Leiria


Januário

(o despeito)


8/10/01

Badamalos


BADAMALOS




Grosso menir compunha no alto do monte
O fálico contorno do desejo
Dois mil anos tinham passado
Mas ainda assim a magia do lugar permanecia
Era agora um marco geodésico.





Sabugal/Terena



(o sexo, a pensar no sítio Endovélico)


Januário

13/08/01

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ventozelo



VENTOZELO



Era nas noites de trovoadas, quando o relâmpago
Ao sul se descarregava no esqueleto das árvores
E em transe percutíamos a glande do mistério
Vinham os animais despojar a crença do nosso sacrifício
E logo reflectíamos a posse da atmosfera circundante
De intemporal solenidade, de prosaico pragmatismo
Convertendo as relações em dependências familiares
Na consanguinidade dos gestos e das partilhas
Mordidas na mesma carne que nos sustenta
Cultivando a emancipação dos costumes
À luz da morte que nos iluminou.



(Zelo)


Mogadouro


Januário


04/12/01