segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Heraclito
Estamos em crise, dizem eles
Os que se alimentam de nós
Tal qual quando dos nossos avós
Pelejando na honra como Aquiles
E taganteiam em palavras esdrúxulas
As ondas sonoras que auditam
Em razões cegas que acreditam
Por vozes como enfeitiçadas de bruxas
É vê-los garbosos na bancada
Ejaculando impropérios de espécie
Postulando o ar de imundice
Masturbando-se na velhacada
E saem sempre airosos do desmando
Como lobos de alcateia, numerosos
De crias em sofreguidão, alterosos
Castigam o incauto, até quando?
Januário
20-05-2013
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
3ª Hora
Ah,
quão desolador
É
sobre emoções de granito
Libertar
o furor
Cuja
memória é requisito
Perscruta
a mente em redor
As
assimétricas diafonias
Enlevadas
da dor
Que
acontece todos os dias
O
mal é fácil e prazenteiro
E
alumia a escuridão
Do
tergiversar dianteiro
Que
nos faz bala para canhão
E
nada adianta a hora
Que
reluz enquanto energia
Coragem
de quem vem embora
E
dita a sua própria alegria.
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Entrevista a Urbano Tavares Rodrigues (escritor): "O comunismo da União Soviética nunca mais regressará"
por
ISABEL LUCAS
Vai sair em Outubro um romance seu sobre
D. António, prior do Crato, um homem que foi rei dois dias e lutou para manter
a coroa portuguesa independente de Castela. O livro sai pouco depois de outro
escritor, seu camarada de partido, o PCP, ter declarado que Portugal e Espanha
vão ser, mais cedo ou mais tarde, um único país. Partilha esta ideia com José
Saramago?
Não. Não concordo de maneira nenhuma. Há
muito que o meu herói era o prior do Crato e também tenho simpatia por
Aljubarrota. Tenho um grande apreço pela cultura espanhola, mas não aceito a
invasão espanhola. Não aceito ver Portugal transformado numa região de Espanha.
Em Ao Contrário das Ondas (Dom Quixote,
2006)traça um retrato negro do País. O que pensa do momento que Portugal
atravessa actualmente?
Olho para Portugal com tristeza. O
capitalismo neoliberal está a ser aplicado com características autoritárias
pelo Governo que se diz socialista e que não tem nada uma política socialista.
Tudo isso me entristece profundamente.
Este ano comemoram-se os 80 anos da
Revolução Russa. Que sentido faz ser comunista hoje?
Ser comunista é, antes de mais, apreciar e admirar a atitude do
Partido Comunista, a que pertenço em Portugal: defender os direitos dos
trabalhadores até ao limite do possível. Essa é a missão de um partido
comunista neste momento.
Continua a definir-se como um comunista?
Sim, continuo a definir-me como um homem comunista, mas não sei o
que o futuro me reserva, que tipo de democracias haverá. O capitalismo
neoliberal irá explodir, porque cada vez há mais bolsas de miséria, formas
diversas de escravatura e há pessoas de direita que começam a sentir, com um
desejo reformista, que isto possa transformar-se...
No seu entender, em quê?
Pois, não é a minha ideia. Mas não é possível fazer voltar a
social-democracia.
E é possível fazer regressar o comunismo?
O comunismo da União Soviética nunca mais regressará.
Que comunismo então?
Terá de ser qualquer coisa nova. Não sou futurólogo, mas penso que
haverá caminhos diversos, consoante os continentes, as condições e a vontade
dos próprios povos; consoante as suas experiências. Quando falo em democracias,
não falo em falsas democracias, como acho que neste momento é a nossa, mas numa
democracia, por exemplo, como a que foi praticada em Porto Alegre quando houve
a união do PT e do Partido Comunista dos Trabalhadores. Era uma experiência
nova de democracia socialista.
É um modelo, para si?
Foi uma hipótese. Há muitas hipóteses. Não sei como vão surgir.
Mas penso absolutamente que vão surgir. Há muito descontentamento.
A sua obra literária foi prejudicada pelo facto de sempre ter
manifestado abertamente a sua ideologia, de ser um comunista?
Sim. Durante muito tempo o meu nome foi afastado dos meios de
comunicação, até que a idade, o prestígio, o facto de nós deixarmos de ser
perigosos... Tudo isso fez com que me dessem atenção.
Já não é um homem perigoso?
Os comunistas não são considerados, neste momento, homens
perigosos.
Apesar da luta política, sempre disse que o amor foi o seu grande
tema...
De facto. Os meus grandes temas foram o amor, a morte e o tempo.
Como é que o homem Urbano Tavares Rodrigues lida com cada um
desses temas?
O tempo é o grande inimigo. Corrompe os sentimentos, degrada-os,
especialmente o amor. O tempo faz apodrecer o amor. Mas o tempo também traz
sabedoria, um conhecimento cada vez mais aprofundado dos seres humanos e das
té-cnicas literárias, das formas de contar, o virtuosismo da narração.
E a relação com a morte, ou com o tempo que dura a vida?
Estamos sempre morrendo, mas, a certa altura, há uma revolta
contra essa sombra... Normalmente na adolescência, quando a existência parece
prometer-nos tudo. O Albert Camus dá muito bem isso na obra dele; esse
sentimento de que a vida nos promete tudo e o que nos dá realmente é a condenação
à morte. Depois, há uma aceitação progressiva e que leva a olhar a morte com
serenidade.
Tem medo de não ter tempo para fazer tudo o que lhe apetece, ou
isso não o angustia?
Não me angustia, embora gostasse de deixar cá fora mais coisas. O
que me angustia mais é deixar a minha mulher e os meus filhos, que precisam de
mim. Tanto o António Urbano como a Isabel precisam do apoio material que lhes
dou.
Para já, vai sair com um novo romance sobre o seu herói, Os
Cadernos Secretos do Prior do Crato. O que tem este homem de tão especial para
lhe chamar herói?
Um patriota que num país vendido a Castela levanta um exército
popular, pega no que resta da cavalaria de Alcácer Quibir, um exército vestido
e armado à pressa que, mesmo assim, obriga os castelhanos a recuar. Mais tarde,
a força numérica impõe-se e é uma derrota. Ele é um homem de múltiplas
dimensões. É uma figura apaixonante. E este é o meu romance de que mais gosto.
O prior do Crato é um homem erótico que teve muitas mulheres, dez filhos. É um
homem religioso, que mantém sempre um diálogo com Deus, embora aos 16 anos ele
tenha recusado as ordens de castidade. É também um intelectual. Fui escrevendo,
escrevendo e vi surgir ali a História de Portugal, até a história da Europa, e
vendo aparecer esta figura fantástica em todas as dimensões. Ele é o patriota
puro, que se opõe à traição e que é ferido por um português traidor. É um homem
também religioso no sentido da paixão quase panteística pela terra. Quanto
terminei e reli as provas achei que tinha conseguido escrever um grande romance
e um romance em que, neste momento em que há novamente uma invasão de Castela,
sobretudo económica .
Acha que há paralelismo entre os dois momentos da História?
É evidente. Portugal está numa decadência extrema. Perdemos o orgulho,
o sentimento patriótico. O prior do Crato levanta tudo isso.
Revê-se nesse homem?
O meu irmão Miguel [Urbano Rodrigues], quando leu o livro,
disse-me: "Este é um grande livro, mas este prior do Crato tem muito de
Urbano Tavares Rodrigues."
Porquê?
Tive sempre qualquer coisa de cavaleiro andante, desde a
adolescência. Antes de tomar o rumo, de querer transformar o mundo e
transformar a vida e pôr a minha acção ao serviço disso, tive quase o amor do
risco pelo risco. Era um homem de aventura em todos os sentidos, do acto
gratuito, quase quixotesco. Há muita coisa que conduz ao grande perdedor.
Considera-se um grande perdedor?
Eu fui um grande perdedor. Em muitas coisas. Fui preso, fui
torturado...
É como perdedor que se vê hoje?
(Silêncio) Sou alguém com uma obra que fica depois de mim.
Falava dos remorsos que o prior do Crato teve em relação a certas
mulheres. Esse remorso também existe em si?
Sim. Sim. A minha relação com o sexo feminino limita-se hoje à
milha mulher (risos). Mas eu olho e olhei sempre com encantamento para a
mulher. A mulher como amiga, como namorada, como amante. A mulher foi sempre,
para mim, uma forma de compreender melhor o mundo, de ir às raízes da vida. A
experiência da mulher é, para mim, uma experiência erótica ou foi muito uma
experiência erótica, mas algumas vezes pensei que estava a usar mulheres um
pouco como instrumentos.
Instrumentos de quê?
A sugar tudo o que elas me podiam trazer de compreensão mais ampla
do mundo.
Foi egoísta?
Sim, fui e acusei-me disso a mim próprio. Mas, por outro lado,
desculpava-me. Era a altura do make love not war. Havia uma grande liberdade e
nem sempre era eu que me aproximava das mulheres. Eram elas que se aproximavam
de mim também.
E era difícil resistir?
Era. (risos)
Lembra-se de todas as mulheres que passaram pela sua vida?
Não, não me lembro. (Silêncio) Às vezes penso nisso. É a memória.
Não me lembro de coisas muito fugazes. Às mais importantes, com quem tive um
envolvimento afectivo e erótico, não se pode fugir. Nem com a memória.
Os últimos dois anos foram especialmente ricos para si. Traduziu
Decameron, escreveu um romance, lançou as suas obras completas, teve um filho e
vem aí outro romance...
Exacto, mas em relação ao filho passamos ao de cima que não gosto
de sensacionalismo. Isso é uma coisa que atrai muito as revistas de moda... Mas
adoro o menino. É um encantamento.
É verdade que já quase não sai de casa?
Por causa destes andares. São dois, quase três.
Nem para férias?
Pensei nisso por causa deles. Tinha pensado ir para o pé do mar...
Nadava todos os dias...
Sim, gostava imenso de nadar, mas agora não posso por causa da
insuficiência cardíaca que me detectaram. Nadei toda a vida.
O que planeia ainda escrever?
Tenho um livro de contos pronto. Não sei quando será publicado.
Chama-se A Última Colina e uma coisa que se chama O Cornetim Encarnado, onde
tenho reflexões, bocados de diário, poemas, pequenos contos, memórias até. Está
para aí.
Não vai publicar?
Não sei.
O que ocupa mais espaço nessas memórias?
O lembrar-me... Por exemplo, uma evocação dos meus encontros com
Vinícius de Moraes. Eu era professor na Sorbonne, muito jovem, e encarregado de
curso, e o Vinícius era secretário da embaixada. Comecei a falar com ele numa
festa de Carnaval em que ele esteve a tocar violão. Lembro-me de amigos que
tive e evoluíram diferentemente na vida e foram figuras marcantes na minha
obra. Estão no princípio e, quem souber ler, vê que continuam lá. Albert Camus,
Jean-Paul Sartre, André Malraux. Fui amigo do Camus, conheci um pouco Sartre,
dei-me com ele, estivemos juntos num congresso para a liberdade da cultura em
Florença. Com o Malraux dei-me pouco mas é como se me tivesse dado sempre.
Livros como A Esperança ou A Condição Humana marcaram para sempre a minha
personalidade e a minha obra
O que lê, agora?
Continuo a ler muito. Li recentemente um livro muito interessante
que recomendo, do Santiago Gamboa, A Síndrome de Ulisses
A sua escrita tem um sítio...
O Alentejo, Lisboa, Paris...
Mantém uma rotina diária de escrita?
Não consigo. Escrevo de vez em quando num caderno.
Escreve nesta secretária?
Muitas vezes. Mas não tenho sítio fixo. Quando a luz é boa venho
para aqui, outras vezes escrevo lá dentro... Temos um living e tenho lá o meu
cantinho com o candeeiro.
É um homem de hábitos?
Nunca fui um homem de hábitos. Agora tenho alguns. Deve ser por
estar em casa. |
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
19º Hora
Ouvi os
clamores da rua
De madrugada pronunciaram
A dizer que
sorte era a tua
Só pelas balas
te calaram
Olhas-te à
distância
E viste o
rebanho em pastorícia
Ruminando a
eleitoral ignorância
Em mórbida e
dura sevícia
E os cheiros
nauseabundos
Transitaram
pelos prédios
Onde dormem
vagabundos
Esvaindo-se em
calados tédios
Ouvi
silenciosas orações
De torpor,
cheias, em ascese
Elevando em
brado os corações
E os corpos em
telegenese.
Subscrever:
Mensagens (Atom)