sábado, 30 de maio de 2009

Rafa


Rafa



Tem na génese o mar e os calores do sul,
E no olhar uma cândida ternura
Todo ele é de pêlo preto-azul
E por demais atiçado não reage com mordedura


Fiel amigo, como nenhum humano
Sempre presente a seu dono
Cuja idolatria roça o insano
Em vigília permanente sem sono


Afável e doce companheiro
Brincalhão sempre disposto
Aos jogos prazenteiro
Correndo e saltando com gosto


Levado da breca, é um cão
Ao mesmo tempo doce e impossível
É uma espécie de ovelha-leão
Pescador de afectos incorrigível.




Januário

15-05-09

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Zapping


Haja sobre o sortilégio a praxis da aceitação
Que purifica o extremo que está nas antípodas
Cuja luz interfere sobre o abismo das idiossincrasias
Por cima do amarelo das tardes ensanguentadas de betão
Em que obscuramente são ditas as regras da sobrevivência
No reclame das insidiosas maledicências sexistas
E nós sobre o espaldar da identidade côncava
Repetimos a idolatria dos nossos antepassados
Mergulhando na mais obscura dissidência
Aprazemo-nos em retirar ao dia algumas horas
De pura anorexia para ser apenas um entre demais
Volantes e efémeros viandantes que se cruzam
Nos corpos que dialecticamente instauram
O pressuposto da resignação.





Januário

20-05-09

Balada da triste-feia


Balada da Triste-feia






Sonho de amor profundo
Enchia seu lindo coração
E por isso carregava o mundo
De malfadada aflição

E logo lhe lembravam
O ar triste e escabroso
Que à pobre desdenhavam
O querer um elegante moço


Por isso no beco vivia serena
Entre paredes sufocantes
E só a morte dela tinha pena
Levando-a a outros amantes.



Januário

08-05-09

domingo, 17 de maio de 2009

Balada do Fala-só


Balada do Fala-só




Pela rua seguia cantando
Suas maleitas e impropérios
E por quem se cruzava andando
Perguntava seus mistérios

Quem sois, e onde vais
Por esse caminho distante
Quer busques terras de jamais
Quer fiques aqui, exasperante


Seduz tua fala com malícia
Os viandantes que transitam
Por entre olhares de carícia
As feras dúvidas imitam


Por isso falava só
Consigo mesmo o amigo
O múltiplo de tanto dó
À mágica luz unido.




Januário

15-05-09