sexta-feira, 23 de março de 2007

Primavera


Sentemo-nos então sobre o verde e languidamente
Olhemo-nos com sofreguidão o corpo transido
Pela incomensurável emoção que nos alcança
Enquanto sobre a paisagem a luz envolve
Agora a sombra de nós dois comprimidos
Num apertar de abraços, num roçar de pernas
Num tocar ao de leve nas mãos pendentes
Sobre a erva que desponta flores em cores
Tridimensionais, e num sussurro sentimos, ouvimos
E dizemos; - É Primavera!

quinta-feira, 22 de março de 2007

Arritmia


Obliquas paredes e frontões
desenham o cenário quotidiano
e ali surge o meridiano
das sonhadas tentações
a cavaleiro da escadaria
o coração arrefece
e porque já não apetece
ser luz de outro dia
mas lá se aguenta
sobre a vertente trapezoidal
ainda clama pelo natural
doer que o atormenta.

sábado, 10 de março de 2007


Caudaloso instinto de vida
É o que leva toda a razão, sempre que ausente a emoção
Vislumbra sobre a tácita concordância
O afligir em que permanece a silenciosa espera da nossa vez
Digerindo os anos como números de quadro exibicional obsceno
Plantado de figuras sem rosto que nos cantam laudas e impropérios
Nos vigiam os sonhos abusando de nós próprios
Nas escuras e dilaceradas margens do nosso entendimento
Repousam emergentes as raízes do ser.



2/10/99

Para quem vive na cidade
A mãe de todas as promoções
Ganha hábitos de indigente voluntário
Tudo lhe é oferecido pela imagem dos outros
Que nos confunde no desespero da circunstância
Periféricamente situado entre as franjas da situação
Alguém se aproximou e disse; - Mas afinal o que estamos aqui a fazer
Ousar ser, quão simples é ser, o que não se é
Como maldição perdura a negra luz que se apaga e em nós acende
Outra vivência seria necessária entre as brumas do passado
Procurar as lutas que sustentaram a raça
Catalisada entre o fossar da sobrevivência.

Morrer a vida e renascer na escrita
Eis o destino da predestinação repleta de dores
Nada sobra do volume que as coisas então tiveram
Como bolas de sabão frágeis e coloridas ao Sol
Que nos queima a miragem o vazio acrescentado
Em que destemperadamente porfiamos na tentativa
Única de existirmos sobre a falésia
A liquida sucessão do comprar e vender a imorredoira emoção
De amargura carregado pelo insucesso da causa
Que era a felicidade que se pretendia
Mas algo obscuro transfigurado tomou posse como um Deus proscrito
Que nos acaricia os desejos
Paridos de luxúria os olhos como Sóis de torreado Verão
Embalamos na brisa fresca de uma tarde calma
Comendo queijo e vinho e mordendo tua língua sedosa
Éramos como Deuses que se amam



3/10/99

Dê-me Deus forças para sustentar isto
O não se vê mas está em nós
O desassossego arcar bem quisto
Ridicularizar as febres altas a sós

Ser no momento a última sublimação
De quem se entrega sem mais quê
Residindo em sangrar o coração
A luz que o alumiava já não vê

Procura o disfarce da Noite, incógnito
Cambaleia entre razias