LUIZ PACHECO, entrevistado por João Pedro George (Blogue
Esplanar)
A entrevista que se segue é fruto de várias gravações
realizadas em dias diferentes. Como a conversa fala por si, julgo que não vale
muito a pena estar aqui com grandes introduções. O mais que tiver a dizer sobre
a vida e a obra literária do Luiz Pacheco guardo para um futuro que espero não
muito distante, quando publicar a Biografia do Pacheco, que estou a escrever e
a preparar. Espero que gostem. Eu gosto
O Luiz Pacheco é muito requisitado para entrevistas...
Opá, isso começou com a entrevista do Expresso, feita por
aquela maluca, a Clara Ferreira Alves, e pelo outro mangas, o Torcato
Sepúlveda, que assinou com outro nome... porque esses gajos é assim: quando um
gajo lhes dá uma entrevista cai-nos tudo em cima. Eles não vão pedir
entrevistas ao Cesariny porque sabem que ele nem liga... Agora, eu já tenho um
balanço, um pé muito bem calçado de entrevistas... sabes como é que eles fazem?
Vêm com o que leram das outras entrevistas e as perguntas são sempre as
mesmas... eles têm lá no ficheiro... antes de virem falar comigo eles não vão
ler as minhas obras completas... nem as encontravam... De entrevista em
entrevista é a mesma chapa, vêm com perguntas de chapa. É como o outra: “o que
é que você pensa da juventude de hoje?” Eu não penso nada, eu nem conheço os
meus filhos... uma vez apareceu-me aqui um gajo da Focus... como é que era o
nome dele? É como os pastéis... de Tentúgal... Rui Tentúgal... disse-me que era
casado com a Cláudia Galhoz... depois é que eu percebi, então o gajo vinha com
perguntas que ela já me tinha feito há 10 anos para o Blitz.
Como é que se tem dado aqui neste lar?
Há uns tempos andei com a ideia de fazer um trabalho sobre
lares. A má fama dos lares é justificada... e não sabes tu da metade do que se
passa aqui... há aqui casos humanos dramáticos, por exemplo, a senhora do
quarto aqui ao lado... à noite têm de lhe mudar a fralda... passa horas a
berrar “srª empregada, srª empregada...” Ninguém aparece... eu ainda lá fui uma
vez... aqui não há campainha de alarme, não há telefone. Também, o que é que
isso interessa, no lar de Palmela havia telefone mas tocava-se e não estava lá
ninguém... Esse lar de Palmela era o lar nº 1, o melhor do país, segundo a
Deco. Era um modelo. O projecto do lar deve ter sido gamado do estrangeiro. Era
um lar invulgar, com todas as condições. Mas o ambiente era muito desumano, era
uma espécie de aldeia turística. Falo disso no último texto do Isto de Estar
Vivo, o “Memorial do Recolhimento”. Era um lar no meio de uma serra, com o ar
puríssimo de Palmela, uma construção nova, em arco, sem vizinhança, sem casas à
volta... Era muito bonito... Fui para lá logo quando aquilo começou... no
início, a fase de promoção, serviam um bacalhau altíssimo, as torradas pareciam
as das pastelarias da Baixa, dois andares de torradas, molhadas em manteiga, o
café com leite vinha com dois pacotes de açúcar... depois, um dia, começou a
aparecer só um pacote... vieram as economias... as torradas passaram a ter só
um andar com uma lambidela de margarina... Agora este aqui, do Príncipe Real,
já se aproxima mais da generalidade. Por exemplo, as giletes que eles dão aqui
algumas já barbearam mortos. Tu não fazes ideia... Isto é um armazém de pré-cadaveres,
é uma parada de monstros. Há um gajo que não tem uma perna, anda de cadeira de
rodas empurrado por um velhinho de 88 anos, há outro que é cego, tem glaucoma,
mais a namorada, que é horrorosa, mas como ele não vê também não faz mal...
outro tem alzheimer, o sr. Américo, entra aqui, de boné e pijama, dá uma volta
pelo quarto, às vezes vai à casa de banho, sai, não repara em ninguém, não diz
nada... há outro que é o sr. Vergílio, anda pelos corredores a rir e a
assobiar, são dois fantasmas... Há uma que anda aqui a passear de um lado para
o outro, diz “ai, ai, ai”, depois vai bater na outra que está sempre sentada na
cama, vai lá mexer... não têm mão nela... com estes gajos não se pode estar a
discutir, é comprimido, água para o bucho, não vai um vão dois, fica a dormir
dois dias seguintes... Isto agora aqui são os últimos dia do condenado. Aqui a
lei é morrer devagar. Está uma a morrer ali, ou já morreu, não sei, estou eu a
morrer aqui, está outra a morrer ali... A ver quem morre primeiro… “Já foi”, é
o que dizem quando alguém morre. Agora já sei o que vão dizer quando eu morrer.
E o seu pai?
O meu pai era funcionário público, trabalhava no Instituto
Nacional de Estatística, era repórter mundano do Comércio do Porto, tenor na
Sociedade Coral Duarte Lobo. E ainda tocava piano nas horas vagas. Não acabou o
curso, estava a tirar o curso da Faculdade de Letras para diplomata, era um
curso que metia um meste de espanhol, um mestre de italiano... Queria ser
diplomata, simplesmente passou a grande guerra de 1914 e o movimento
diplomático parou... ficámos sem os postos dos alemães, dos austríacos...
resultado, não acabou o curso, nem ele nem eu...
O Luiz nasceu e cresceu na Estefânea...
Quando vim para aqui comprei o passe, então metia-me no
autocarro sem saber para onde é que eles vão... não vejo nada, nem sequer os
números e o caneco... metia-me no primeiro autocarro e ia até ao fim da
linha... um dia apareci no Fonte Nova, julgava que era o Arco Íris... bom, mas
numa dessas viagens fui parar ao Arco do Cego, Alameda, Praça do Chile... o
Chile está na mesma… não está exactamente na mesma porque havia um lago no
meio… o lago que depois estava no largo D. Estefânia…nos meus 14, no tempo do
liceu, havia a rua de grande movimento e muito populosa que era a Moraes Soares,
havia a Carvalho Araújo, que ia até à Alameda, e depois acabava... não havia a
Alameda, não havia o Técnico, depois era o Areeiro e até à Av. do Brasil, ao
aeroporto, eram terrenos, quintas aqui ou ali, pequenas quintas, depois eram
zonas de despejo, onde as camionetas despejavam ali nos terrenos… Ao cimo da
Rua D. Estefânia, onde eu nasci, no nº 91, 1º andar, havia a rua do Arco do
Cego que tinha uma coisa que era o sobe e desce, depois puseram-se a fazer a
Casa da Moeda, a Estatística, o Técnico… o Duarte Pacheco, que era presidente
da Câmara de Lisboa e Ministro das Obras Públicas foi censuradíssimo por causa
do Técnico, porque havia aulas onde só estavam seis estudantes… hoje o Técnico
tem milhares de estudantes… O Duarte Pacheco era diabético e um trabalhador
incansável… estava lá no ministério até às tantas, a beber leite, era um gajo
de facto com uma visão do futuro… depois tinha o apoio do velho Salazar, que
também não era tão mal como isso… não era tão mal como isso… era péssimo.. mas
enfim… era péssimo, mas também não era como estes merdas que há agora…
Disseram-me que o prédio da D. Estefânia tinha ido abaixo, parece que a casa do
Jaime Salazar Sampaio, na rua Casal Ribeiro, também foi abaixo… quer dizer
aquela zona da Estefânia mantém-se muito mais parecida com o que estava aqui há
70 anos do que a Casal Ribeiro ou o Saldanha… aí foi tudo abaixo, o Monumental,
um dia passei lá e vi a imagem, a estátua do Saldanha com o dedo apontado,
parecia um paliteiro... aquilo foi feito para um cerco de prédios muito mais
baixo e hoje estão coisas brutais…de maneira que eu de repente estava em sítios
que conheço de gingeira... Era a zona onde brincávamos, o Pires, o Salazar
Sampaio, a malta da minha turma do Camões, andávamos por ali aos saltos a
brincar, de repente aparecia um lago...
E o Liceu Camões?
Eu ficava sempre na carteira da frente, junto ao quadro,
porque via mal. As janelas da sala davam para o jardim do Matadouro, onde é o
Fórum Picoas... Sabes quem é foi meu professor? O A. do Prado Coelho, pai do
Jacinto e avô deste Eduardinho, o almôndega peluda... era a alcunha dele... que
culpa tenho eu que lhe chamem assim...?
O Eduardo Prado Coelho deu-lhe uma porrada muito grande no
Diário de Lisboa, num texto que escreveu sobre Crítica de Circunstância, o
primeiro livro do Luiz Pacheco...
O gajo disse que o livro tinha graça mas que não continha
uma única ideia, ou seja, o Luiz Pacheco não tem ideias... Ora se isso é
verdade então o problema, a culpa é da família dele... É que eu já aturei 3
gerações de Prados Coelho. O avô no Liceu Camões, por sinal fui o melhor aluno
dele, mas pelos vistos não assimilei nenhuma ideia dele. Do que li do Jacinto
encontrei algumas ideias mas não me devem ter entrado na pinha. Este, o
novinho, tem ideias mas são francesas. O avô dele foi meu professor no 6º ano e
à entrada da aula dizia: “recomenda-se o máximo de silêncio”. Não era o gajo,
era o indefinido, o Jeová! A turma estava-se cagando para o gajo. Durante um
ano, para não se chatear, e para nós não nos chatearmos também, pôs-nos a
recitar “A Balada da Neve” do Augusto Gil: “bate leve levemente como quem chama
por mim…” Esse rapazola (EPC), esse merdas, era um gajo terrível do partido.
Não foi por acaso que o gajo veio de Paris para cá quando o Carrilho se tornou
ministro. Está a mexer nos cordelinhos do Carrilho e da Bárbara...
Como foi a sua passagem pela Faculdade de Letras?
Quando acabei o liceu, em 1943, o meu pai disse que não
tinha dinheiro para me por na Faculdade. Fui então falar com o João de Brito, o
professor de latim, que me deixou ficar como aluno fantasma. A professora de
português, Celeste Pereira Rodrigues (o Câmara Reys, que era o meu professor,
reformou-se no meu último ano do liceu), deu-me explicações no último período,
de Latim avançado (Cícero, Tito Lívio) e francês. Tinha 2 aulas por dia, às
vezes menos. Nos intervalos ia para a Biblioteca. Li o Gil Vicente todo, em português
e castelhano, o Fernão Lopes, o Garcia de Resende e outros. Nesse ano fantasma
também dei explicações. Aprendia e ensinava. Foi um ano magnífico. Não me
faziam perguntas, o que era óptimo, porque eu era um aluno muito nervoso,
gaguejava quando me perguntavam alguma coisa. Nesse ano só registava e ouvia.
Depois, como fiquei muito bem classificado no exame de admissão à Faculdade de
Letras de Lisboa (Curso de Filologia Românica), não tive de pagar propinas,
fiquei isento. A Faculdade foi um grande choque. Havia 10 alunos rapazes para
200 alunas. No liceu era só rapazes. Os professores faltavam muito, eram uns
chatos, excepto do Vitorino Nemésio e o Delfim Santos. O Nemésio deu-me 18
valores. Nunca dei graxa ao Nemésio, como o David e o Urbano. Eram uma espécie
de pagens dele. Montaram-se nele.
Quando é que começou a colaborar em jornais?
Comecei n’O Globo, em 1945, com uma coisa sobre os Jogos
Florais e o centenário do nascimento do Eça. Fui à redacção falar com o Vasco
Vidal e fiquei a trabalhar à borla. Depois levei o Cardoso Pires, que publicou
lá um conto, e o Jaime Salazar Sampaio. Eu e o Pires dirigimos um suplemento
universitário, Novos Horizontes. Fui aí que publiquei as minhas primeiras
coisas. Saiu lá uma entrevista minha ao Mário Dionísio... ora aquela entrevista
quem a escreveu foi o Mário Dionísio, a não ser a última pergunta.
Telefonei-lhe a dizer que o queria entrevistar. Quando cheguei a casa dele a
entrevista já estava toda feita. O que foi uma grande vantagem. Eu não sabia o
que ia perguntar ao gajo... Depois, como o Vidal também tinha a Afinidades,
levou-me para lá e eu depois levei também o Cardoso Pires, o Mário Dionísio, o
Jorge Pelayo, o Joly Braga Santos, o Salazar Sampaio. Aí já comecei a receber,
o primeiro pagamento foi 40$00. Também fiz duas traduções, uma delas sobre a
Ocupação alemã em França. Tanto O Globo como a Afinidades eram publicações
feitas pela resistência francesa, para manter o espírito francês. A Afinidades
era uma revista de cultura luso-francesa e tinha como chefe de redacção o
Lionel de Roulet, que era cunhado da Simone de Beauvoir, estava casado com a
irmã as Simone, a Helene Beauvoir. Uma vez critiquei a Maria Figueiredo,
chamei-lhe bas bleu, pretensiosa. Uns dias depois recebo um telefonema do
António Maria Pereira pai a chamar-me à ordem. Disse-lhe: “esta conversa não me
agrada” e desliguei o telefone. Mais tarde vim a saber que a Maria Figueiredo
era amante do António Maria Pereira. A crítica ofendeu-lhe o caralho. Foi a
primeira reacção que tive ao artigo...
Logo a seguir, juntamente com o Jaime Salazar Sampaio,
aparece O Bloco, volume antológico de teatro, poesia e conto...
A literatura em Portugal não existia porque não existia
liberdade. Então pensámos fazer uma pequena publicação para dizermos o que
quiséssemos... O modelo foi copiado de uma publicação de direita, a Rumos, do
Couto Viana, do Bigotte Chorão, etc. N' O Bloco colaboraram o Mário Ruivo, com
poemas anti-colonialistas, o Ferro Rodrigues pai, a Rosa Araújo, o Cardoso
Pires, o Salazar Sampaio, a Maria Natália, o Daniel de Moraes, que era do PCP e
fez a capa, o Francisco Castro Rodrigues, arquitecto, também do PCP, fez um
desenho. Meu saiu a História Antiga e Conhecida, que depois o Cesariny adaptou
para o teatro (Um Auto para Jerusalém). Os exemplares foram quase todos
apreendidos, nem chegaram a sair da tipografia.
E a Contraponto?
A Contraponto: Cadernos de Crítica e Arte saiu precisamente
em Setembro de 1950. Era uma pequena intervenção, um caderninho no modelo de
uns cadernos da Pathê Baby, que tinha um formato muito pequenino, era uma
espécie de revistinha publicitária sobre cinema e fotografia. Eu vi que aquilo
era feito na editora gráfica portuguesa, na Rua Nova do Loureiro, ali ao pé do
Conservatório Nacional de Música, e fui lá. A tipografia era do Carlos Carvalho
e dos irmãos, três ou dois, já não sei, um era meio patareco... fui lá e pedi
um orçamento para dois mil exemplares e depois convidei quem?, convidei o
Abelaira, o Jaime Salazar Sampaio, o Vasco Vidal, a Arlinda Franco Oliveira, uma
engenheira agrónoma, e um tipo que tinha sido meu colega na Faculdade de
Letras, o Eugénio Morais Cardigues, fumava cachimbo, era muito machista... foi
director da Escola Comercial do Montijo, depois apagou-se por completo como
figura intelectual que durante algum tempo chegou a ser... era uma revistinha
de crítica assanhada, anti-salazarista... foi muito mal distribuída aqui em
Lisboa e aquilo veio tudo devolvido porque a revista acho que foi acoimada de
coisa reaccionária e fascista e não sei que mais... bem, o que é certo é que eu
aí fiquei com uma grande desilusão, foi um bom choque que eu tive... O número 2
saiu em 1952 e o 3, só metade porque não havia dinheiro, só saíram as páginas
1, 2, 7 e 8. Quase ninguém soube que aquele número saiu, foi feito na Sertã, em
1962, dez anos depois do segundo número. A revista acabou ali, porque eu
convenci-me que fazer uma revisteca a pagar aos colaboradores 200 escudos, o
que na época era um dinheirão, era muito mais que 20 contos hoje, e publicar
coisas que não me interessavam muito, porque a gente convidava um fulano para
fazer um trabalho ou prestar colaboração e depois o tipo escrevia coisas que
não nos agradava nada... então resolvi começar a fazer edições pessoais...
... e cria a editora Contraponto...
Não, a editora começou a funcionar em 1951, logo a seguir ao
primeiro número da revista. A primeira edição Contraponto foi o Discurso sobre
a Reabilitação do Real Quotidiano, do Mário Cesariny de Vasconcelos. A editora
tem origem na tentativa de uma terceira via, não neo-realismo, não surrealismo,
mas uma terceira via. A Contraponto vivia um bocadinho da minha amizade com o
Jaime Salazar Sampaio... o autor da Contraponto era o Jaime, dramaturgo, poeta,
contista. Depois, quando apareceu o Cesariny, ele ficou muito lixado porque eu
fiquei um bocado deslumbrado com o Mário… e estes gajos, que só querem um gajo
para si, o que é uma estupidez, um gajo com uma ligação amorosa, carnal, com
uma mulher ou com um homem, que tenha ciúmes é uma coisa, agora dois amigos, um
amigo tem um 3º, um 4º, um 5º amigo, pois ainda bem, é bom sinal, é sinal que é
estimado, não sou só eu que o aprecio, mas não, era uma inveja, uma ciumeira, a
mesma coisa aconteceu depois com o Cesariny e o Herberto Helder, ora o Cesariny
não tinha que ter ciúmes do Herberto… ficou fodido, de repente o Cesariny
supunha que o Contraponto era só para ele... O Gaspar Simões chamava-me «o
Sacristão do Surrealismo», por ter a editora, por publicar aqueles gajos...
E o António Maria Lisboa?
O Lisboa era um espírito insubmisso. Eu dei-me mais com o
Lisboa foi em Benfica, na Villa Anna, no Verão de 1950, antes dele ir para
Paris a primeira vez. Ele foi dormir lá a Benfica uma ou duas vezes. Lembro-me
que íamos a pé às tantas da amanhã, quando perdíamos o último carro do Arco do
Cego para Benfica, que era à uma e meia... então íamos a pé por aí fora. A
minha mulher, a Maria Helena, e os miúdos estavam em casa dos meus pais, em
Bucelas, ao pé do Moinho, e eu ia dormir a Lisboa, em Benfica, por causa do
clima húmido de Bucelas, que me provocava grandes ataques de asma. Em Benfica
era assim: de um lado a Villa Ventura e, do outro, a Villa Anna, o nº 674, que
era a casa dos meus avós, onde depois também foi viver, para o andar de cima, o
meu tio e padrinho, o coronel Fernando António Gomes. Ainda lá estão as casas,
eu julgava que não estavam mas ainda lá estão. Ali mesmo ao lado havia a
família Lobo Antunes, viviam numa vivenda formidável, tapada por um muro muito
alto... porque os Lobo Antunes de repente tiveram... foi um gajo que me
contou... eles não falam nisso... o pai destes Antunes todos, o médico, morava
numa travessa muito pequenina, num prédio antigo... comprou um bilhete no Natal
e saiu-lhe a sorte grande... na altura era uma coisa enorme... e depois ele
comprou a vivenda... eu soube isto por um tipo que também morava lá... a
vivenda deles foi abaixo, abriram uma avenida... Bom, mas voltando ao Lisboa.
Eu depois perdi com o contacto com o Lisboa, que só venho a retomar em Cabeço
de Montachique estava ele internado numa casa de saúde. É aí que ele me entrega
o Ossóptico e Erro Próprio, edições dele, feitas em Coimbra, quando ele esteve
internado no Sanatório dos Covões. Distribuí aquilo em Lisboa, ofereci, vendi,
vendi muito pouco, lembro-me que havia uma gralha no Erro Próprio, que eu
emendei até com tinta verde, que era uma tinta que eu usava na altura. Depois
editei-lhe Isso Ontem Único, três livros-plaquetes. Quando ele morreu tive
muita pena… ninguém sabe o que é que daria o Lisboa 50 anos depois… a vantagem
de morrer cedo e com uma obra que foi para o lixo... o que se aproveitou não é
nada…
E que história era essa da “equipa do terror”?
Opá, isso não interessa para nada. A equipa do terror eram
três gajos que viviam perto uns dos outros, eu, o Manuel de Lima e o Cesariny,
a magicarmos projectos de cartas, de panfletos, de coisas assim... O Cesariny
morava na Rua Basílio Teles, entre a Estada de Benfica e a Columbano, o Lima
morava na Rua Dr. António Martins, que era também para ali, muito próximo de
nós, eu estava na Palhavã, na Estrada de Benfica, com a mulher e os miúdos.
Depois nunca se fazia nada... nunca houve terror... a gente não tinha dinheiro,
não havia dinheiro... lembro-me que as nossas refeições era puré de feijão... o
Cesariny em casa era um ovo para três, ele, a mãe e a irmã... Foi aí nesse
quarto da Estada de Benfica que eu fiz o Contraponto 2, que se editou o
Malaquias ou a história de um homem barbaramente agredido, do Lima, julgo que
se publicou também o Carlos Wallenstein. O Isso Ontem Único também já estava
publicado, esse ainda foi publicado no Bairro Tacha, na Buraca... Opá, não é
fácil de repente reconstituir a vida de uma pessoa que tem andado numa vida de
saltimbanco... eu já morei em quase toda a Lisboa...
Como é que o Luiz e o Cesariny aparecem a escrever num
jornal de automobilismo como O Volante?
O Volante era um jornal maluco, era a publicação mais antiga
de automobilismo em Portugal. Era dirigido pelo Campos Júnior, que também tinha
o Átomo, com o Gaspas [Gaspar Simões] como crítico literário, e o Pedro da
Silveira a mexer lá por trás. A minha vantagem em relação ao Cesariny era que
eu sabia andar de bicicleta. Num artigo sobre turismo, o Cesariny disse: “da
Serra de Sintra vêem-se os montes do Alentejo”. Era a Arrábida... Fizemos, por exemplo,
a cobertura do circuito de Monsanto, com o Fangio... depois traduzíamos artigos
do L’Equipe. Depois o Pedro da Silveira arranjou-me um emprego no Mundo Motor
ou Mundo Motorizado, que ficava na rua do Alecrim, era uma imitação d’O
Volante. Só lá estive um mês, nunca me pagaram. Aí também fazia traduções do
L’Equipe, punha-se a riscar o jornal e o editor dizia: “não faça isso que o
jornal é do homem do quiosque, que nos empresta”. O Volante ainda assinava o
L’Equipe, esses nem isso...
[Batem à porta, entra uma empregada do lar, brasileira]
Pacheco: “Ó minha senhora, desculpe que lhe diga, é uma
lindíssima mulher…
Empregada: “ahhh?”
Pacheco: “ahhh? O que é que ela diz?”
Empregada: “Isso é a minha filha”.
Pacheco (pega nas mãos da empregada): “Olha, tem as mãos
quentes. Tu não fazes ideia, esta senhora e as outras acordam a velhinha ali do
lado todas as manhãs, sabes como? Dando beliscões na velhinha…o barulho que
elas fazem a rir… Olha, ontem vi uma… não estava nua… estava a vestir-se…”
Empregada: E o senhor gosta de ver, né, e o senhor gosta…
Pacheco: Eu não vejo quase nada, ó minha senhora… eu não
vejo quase nada… chegue-se aqui... olha para este espanto... é uma mulher
linda... anda é muito vestida... quero vê-la na praia...”
Empregada: “Ele é fogo, o sôr Luiz é fogo…”
Pacheco: O quê? pego fogo…? Queres levar um livro? Não te
faz mal nenhum…
O libertino passeia-se no lar? Como é que foi a publicação
de O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor?
Quem pagou a edição foi o Vítor Silva Tavares. Um dia estava
numa tipografia e encontrou uns exemplares, primeiras edições, de Sodoma
Divinizada, do Leal. Comprou esses exemplares ao tipógrafo. Com o dinheiro que
fez da venda desses exemplares do Raul Leal produziu a 1ª edição do Libertino.
O que eu sei é que o Libertino foi a fazer ao Porto, tenho a impressão que fui
lá rever provas, saiu e em Janeiro de 1970 aparece-me no Hospital de Santa
Marta, onde eu estava internado desde o 25 de Dezembro de 1969. Na véspera de
Natal acordei com uma ressaca doida, depois de ter andado nos copos, e não me
conseguia levantar da cama… fui para o banco de S. José, fiquei lá a noite e no
dia seguinte fui para Santa Marta… com uma ressaca maluca... o diagnóstico dizia
que era angina de peito… estive lá um mês…bom, entra-me por ali adentro, em
Santa Marta uma embaixada, à frente a Lia Gama com o marido, atrás o Lauro
António e o Vítor Silva Tavares. Vinham de almoçar todos juntos e traziam-me a
edição do Libertino para eu assinar e numerar…eram 500 exemplares...
A edição foi apreendida pela PIDE...
O Libertino não foi apreendido porque nunca chegou a ir às
livrarias, a 1ª edição nunca chegou a ir às livrarias. Não foi apreendido, foi
proibido. Depois o Vítor guardou os livros, acho que parte em casa parte no
Diário de Lisboa, e era aí que depois ele vendia os livros, a 500 paus cada..
desapareceu tudo... era bem bonita, a 1ª edição...
Considera-se um marginal?
Eu não me considero coisíssima nenhuma. Eu considero-me um
gajo que está aqui sentado. O burguês tem perante o chamado marginal, o gajo
que está na cadeia, ou que está no hospital, ou aqui no lar, uma atitude
natural de superioridade e supremacia. Isso manifesta-se. O que estou a dizer é
que estou-me cagando para o burguês, para os burgueses todos, incluindo a minha
costela burguesa. Esses gajos são uns exploradores. Querem apanhar o meu lado
pitoresco, ou folclórico, para fazerem negócio com isso. Se fazem negócio com
isso, é bom, eu acho bom.
Recebe uma bolsa do Ministério da Cultura, por mérito
cultural...
O Alçada Baptista encontrou-me um dia na Av. da República e
perguntou-me: “não lhe dava jeito uns 7 ou 8 contos por mês?”. “Ó dr., não me
diga isso”. Se fosse um conto ainda acreditava…” Depois vi o decreto e
concorri. Tive logo um subsídio de 10 contos. Depois, a Maria João Rolo Duarte,
a mãe deste Pedro, é que conseguiu que o Santana Lopes, quando era Secretário
de Estado da Cultura, me aumentasse o subsídio, que na altura ia nos 60
contos... a Maria João Rolo Duarte sabia que o Cesariny recebia mais que eu e,
numa festa em que encontrou o Santana Lopes, fê-lo prometer que me aumentava o
subsídio. Como ela escrevia na Capital, publicou um texto que comprometeu o
Santana. Recebi mais 30 contos por mês, passou para 90 contos. Mais trinta
contos por mês, um conto por dia... de repente apareceu-me lá em Setúbal uma
carta com retroactivos, 6 meses, foi um balúrdio... 30 contos é uma grande
diferença... Gosto do Santana por causa disso. E também porque é um playboy, um
gajo dos copos, das discotecas…
Opinião sobre José Saramago?
É muito meu amigo. Foi muito porreiro comigo na altura do
Diário de Lisboa. E noutras ocasiões. Um dia apareceu-me no sanatório do Barro,
em Torres Vedras, com a Isabel da Nóbrega... quando se foram embora puseram uma
nota de cinco contos, disfarçadamente, na gaveta da mesa de cabeceira... Quando
ele recebeu o Nobel foi lá a Palmela uma filha minha, com o marido e com os
dois filhos, e diz-me assim: “ah, tu tens é inveja do Saramago”. Tenho agora
inveja do Saramago… nunca quis prémio nenhum quanto mais agora o Nobel… quem
tem inveja do Saramago é o Lobo Antunes e muita… porque o Lobo Antunes deve
ter-se convencido que com o seu mérito próprio ganhava o prémio... ora o prémio
não é um prémio para mérito próprio, o prémio é um prémio político, o prémio é
dado com pontaria, com muita pontaria...
Nos últimos anos tem publicado livros a um ritmo espantoso.
Uma Admirável Droga...
Isso é aquilo que eu chamo um livro póstumo, eu não tive
intervenção quase nenhuma naquilo... a Isabel Segorbe, de Coimbra, telefonou-me
a perguntar se podia editar um texto meu que tinha lá em casa... mudou de casa
e achou lá aquela laracha... eu não sabia o que era aquilo... De repente sou
confrontado com situações de que não lembro de nada... eu andei debaixo de
álcool, álcool misturado com drogas, não é o haxixe e essas coisas que vocês
tomam agora, era o Lorenine, era o Valium, era essas merdas. Eu tinha dias em
que não me lembrava, no dia seguinte, absolutamente de nada... podem contar-me
tudo o que quiserem que eu não vou negar, mas vou negar para quê? Já não
consegues desfazer em muita gente a opinião que fazem de ti, é muito difícil de
desfazer... por exemplo, o B.B., foi ele que apresentou esse livro de Coimbra,
o lançamento foi ali na livraria Ler Devagar... eu não fui lá, ficou muito
ofendido... eu se fosse lá era para lhe dar com uma bengalada... o gajo começa:
“Luiz Pacheco, bebedeiras, prisões, sexo bilateral... até parece que ninguém
viu o B.B. bêbedo... eu por acaso vi... às vezes aparecem-me aqui gajos que
dizem que me conhecem... sei lá quem são os gajos, não faço ideia nenhuma... um
dia destes apareceu aqui um gajo: “eu sou o António Carranca”, como quem diz
“eu sou o Napoleão”... eu não fixo caras... quando você chegou aqui, se
dissesse “eu sou o Kadafi”, eu acreditava... mesmo com os óculos eu levo uns
segundos... se fores às Caldas da Rainha há montes de gajos que me conhecem ou
se lembram de mim e eu não faço ideia quem são...
E a Admirável Droga?
A carta que tu me escreveste, quando aquilo saiu, foi a 1ª
opinião que me chega sobre a Admirável Droga. Gostava que tivesses sido mais
agreste. Não por masoquismo mas porque entendo que o teu adjectivo despudorado
é bastante pudico... discreto... delicado... Não estamos em tempos de PIDE,
Censura, Clero da Inquisição. Dá-me vontade de rir estas coisas. Eu nem sei o
que escrevi. Li agora aquilo como o livro de um outro. Quando revi, em Janeiro
de 2001, as provas (ampliadas) escrevi no fundo da página três desabafos, que
saíram colados ao texto. Que fazer? Nada. Autorizei a Senhora a fazer o que
quisesse… e ela fez bastante, caramba! As pessoas, o que eu tenho visto,
prendem-se ao escandaloso, ao insólito, falando vulgarmente, ao ESPECTACULAR. É
com elas. Tá bem, é assim. Não havia, creio que ainda não há, em português,
originalmente, relatos com homossexualidade, pedofilia e por aí. Não vai tardar
muito, creio! Nem eu me arrogo o Vasco da Gama, o Colombo, o Cabral desses
“descobrimentos”. Nem está aí o meu objectivo. O Libertino é uma reportagem,
escrita de jacto, no dia seguinte aos eventos relatados. Estes casos, dos
marujos e da Emília, chegam-me de longe e já têm meio século.
É parecido com o que escreve?
Eu não tenho, creio, grandes dotes de imaginação. A minha
fantasia é pobre. Sendo assim, os textos que considero mais conseguidos são
autobiográficos. Reportagens de mim. Com um mínimo arranjo estético. Nalguns
casos, como o do Libertino, são textos directos, rápidos, sem mastigação.
Noutros são uma construção sobre os factos, aquilo a que chamo textos
orquestrados, como a Comunidade, por exemplo.
E o livro Mano Forte, a correspondência para o António José
Forte?
Quem conheça um pouco da minha vida sabe que eu tive uma
vida um bocado atribulada, com fugas de casas, de terras, de mulheres, de
ambientes… eu sempre tive o cuidado, quer em Setúbal, quer nas Caldas da
Rainha, quer na Macieira, quando aparecia ameaça de ser preso ou ter que mudar
rapidamente de casa, de não andar carregado com dossiers cheios de tralha…
ficou-me muita tralha perdida para aí… ainda bem que ficou…
Mas gostou, gosta do resultado final?
Dali não vem mal ao mundo. Podia vir se isto fosse uma
edição que não tivesse venda. Isto é muito cuidado. Se teve venda alguém
ganhou, ganhou a tipografia, ganhou a fábrica de papel, ganhou também o editor…
Eu tenho uma certa cagança nisto. Repara, eu estou aqui no quarto, não saio à
rua há mais de um ano e de repente estou na montra da FNAC… é uma maneira de
sair daqui.
Lembra-se de ter escrito aquelas cartas e aqueles portais?
Não me lembrava de nada. Publiquei cartas minhas para o
Forte e do Forte para mim no Pacheco versus Cesariny. Isto é nem mais nem menos
o resultado de um gajo que teve uma vida um bocado atribulada, ou variada,
salta de Lisboa para Setúbal, de Setúbal salta para as Caldas da Rainha, salta
para Almoinha, Sesimbra, salta para Vieira do Minho. As cartas também são para
vários sítios porque como o Forte era funcionário das bibliotecas itinerantes
andava de Vieira do Minho, Portalegre, Santarém, Tomar…
Qual a memória que guarda do António José Forte?
O que não está aqui feito e também agora não interessa fazer
era valorizar, dar o seu justo valor à figura do Forte. Eu tentei convencer o
Bernardo Sá Nogueira... não quis, achou que não… O Forte nunca foi um gajo de
se evidenciar muito, de se por em bicos de pé… é claro que este livro era uma
boa oportunidade de chamar a atenção para o Forte… Olha, não quero falar de
mortos. Aqui no lar já há muitos mortos. Aqui está tudo morto. O gajo da
cadeira de rodas… Quando passa aqui o cortejo, à hora de almoço, à hora de
jantar…
Como é que esta correspondência aparece passados tantos
anos?
Um tipo sabe que fulano António José Forte, por exemplo,
guardou coisas que lhe mandou, cartas e postais, guardou, morreu, foi parar às
mãos de alguém e depois aquilo representa um valor… e então vendem… depois
aparece um urubu mais categorizado, com outra perspectiva empresarial e faz a
edição. Eu em princípio não posso estar contra isso. De qualquer forma, este
livro é uma golpada, é de rabo à mostra… repara, é uma edição de 1000
exemplares a um preço, mais 100 a outro preço, numerados, com mais 30 a outro
preço, numerados também, uns em romanos e outros em árabe. É o intuito do
alfarrabista a valorizar as cartas que lá tem. Seja como for, o livro está
cheio de disparates…
Como por exemplo?
O título, desde logo o título. Eu não conheço as cartas nem
os postais, mas duas dezenas de cartas e três postais nunca podem ser “cartas
fortes”, que era como o Bernardo, no início, lhe queria chamar… há uma carta
maior, mas o resto são tudo cartas pequeninas… O Bernardo Sá Nogueira diz sobre
estes postais que era “escrita premeditada no pressuposto de publicação”. Isto
é um disparate, é a armar em esperto. Quem vê os postais que vêm ali, em
fax-simile… então um gajo escreve um postal destes a pensar que vai ser
publicado? Eu agora quase não escrevo postais com o objectivo de não serem
publicados. Escrevo muito poucos postais e cartas, então, é um caso sério. Aqui
já não é o interesse amigo de guardar um papel de um gajo que lhe mandou, aqui
é já o interesse meramente mercenário de fazer dinheiro com o papel. No gesto
de guardar cartas há uma certa afectividade ou interesse ou coisa que o valha.
Um gajo que está numa cadeia, num hospital, numa aldeia, se comunica com
alguém, se gosta de comunicar, a carta é um derivativo. Ainda mais nessa
altura, no tempo do antigamente, do fascismo, a carta era uma expressão livre,
claro que os gajos muitos cautelosos nem cartas nem postais escreviam. Agora eu
escrevia imenso… Este livro é uma golpada. É evidente. Por exemplo, a
fotografia na capa… é uma maluqueira como outra qualquer… Dá ideia que eu é que
sou um exibicionista, que gosta de vir nas capas… é para chamar, para vender
mais… Isto faz vender. A fotografia e o nome fazem vender…
Mas os seus outros livros também têm o Luiz na capa…
Mas olha que nunca foi por minha vontade… As edições
Contraponto, que são as minhas, não têm fotografia na capa. Vem na Estampa,
invenção do senhor Vítor Silva Tavares… depois vem com atributos como as calças
curtas, o saco de plástico… opá isso são os chamados bonecos, é a imagem de
marca. É um bocadinho por desprezo. Porque eles usam bons casacos. É uma atitude
normal do burguês, que goza o marginal, ou que quer gozar…
Vai sair na D. Quixote, em breve, um diário inédito, o
Diário Remendado...
Aquele diário é uma conversa comigo mesmo, um desabafo... e
é um fragmento de um fragmento do meu diário... é uma amostra, um fragmento
daquele período, entre 1971 e 1975... deitei muita coisa fora... tirei mais de
metade...
Inclusive o relato do 25 de Abril...
Esse corte foi deliberado... eu não gosto daquele texto...
era uma resposta aos gajos que faziam artigalhadas mais ou menos inventadas com
o título “O meu 25 de Abril”... aquilo era tão presunçoso... não foi só um
gajo, ainda foram uns quantos... se tu fores consultar os jornais na altura
verificas isso... era uma paródia a esses gajos... Como é que foi o seu 25 de
Abril? Opá, os colhões do Padre Inácio... já ninguém liga ao 25 de Abril...
Foi de pijama para o Largo do Carmo...
Mas não foi de propósito... eu estava em casa, sozinho, o
Paulo tinha ido para o liceu, estava a rever provas do Pacheco versus
Cesariny... de repente chateei-me, não tinha telefonia, não tinha televisão,
não tinha nada, chateei-me de rever provas e disse vou ali beber uma cerveja e quando
venho de beber a cerveja há o barbeiro que me diz “ó senhor Pacheco, olhe que
há revolução em Lisboa”. Então enfiei o sobretudo que me deu o marido da
Natália Correia e fui para Lisboa... não foi de propósito que eu fui para o
Carmo de sobretudo e pijama...
Impressionante a sua memória, Luis.
É a única m**** que funciona, pá.
Só mais uma pergunta...
Agora não respondo mais nada... estou cansado...c******!...
são 80 anos, foda-se... vá, pira-te que eu tenho de mijar e ir comer qualquer
coisa...
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