segunda-feira, 17 de dezembro de 2012



O nosso Senhor Capitão

Augusto Casimiro







Escritor e militar português, Augusto Casimiro dos Santos nasceu a 11 de maio de 1889, em Amarante. Nessa localidade fez os seus estudos primários e liceais. Aos 16 anos, tendo escolhido a carreira militar, assentou praça noRegimento de Infantaria de Coimbra. Frequentou então estudos universitários em Coimbra e, depois, o Curso de Infantaria da Escola do Exército, de que saiu graduado em 1909. Cedo se revelou como poeta e cronista, estreando-se como autor em 1906 e iniciando a sua colaboração na imprensa periódica na década de 1910. Também por esta altura aderiu aos ideais republicanos.

Cumpriu os preceitos militares, encarando-os como uma forma nobre de servir a sua Pátria. Na sequência desta forma de pensar quando recebeu a incumbência militar de se deslocar a Flandres, com a patente de tenente, granjeou grande prestígio e respeito junto dos seus "companheiros de armas". A sua participação na Campanha da Flandres (1917-18), durante a Primeira Guerra Mundial, valeu-lhe várias condecorações (Cruz de Guerra, fourragère da Torre e Espada, Ordem de Cristo, medalha de Ouro de Bons Serviços, Military Cross, Legião de Honra, Ordem de Avis e Ordem de Santiago) e a promoção a capitão.

Após o termo da Grande Guerra, lecionou no Colégio Militar, sendo de seguida integrado como adjunto na campanha que visava a delimitação da fronteira entre Angola e o então Congo Belga, trabalhando sob a direcção de Norton de Matos, então Alto Comissário da República em Angola. Nesse período foi Governador do Distrito do Congo e Secretário Provincial e Governador interino de Angola (1923-1926). Este período de permanência em Angola, levou-o a escrever largamente sobre temática de carácter colonial.

Augusto Casimiro, ao ser deportado para Cabo Verde na sequência da sua participação na Revolta da Madeira em 1931, quando assumiu a direcção do jornal Notícias da Madeira, que era o órgão oficial dos revoltosos. Enquanto permaneceu em Cabo Verde passou a conhecer de forma mais personalizada a Literatura Cabo-verdiana, que pôde descrever e valorizar como uma nova realidade, juntando para sua cabal interpretação o que já se sabia. Permitiu assim perceber melhor como, na dialéctica contraditória e dolorosa da colonização e da luta anti-colonial, nasceu um encontro mais fraterno de povos e de culturas com base na língua portuguesa. Em 1930 afastou-se da Ditadura, por saber que estava comprometido o seu sonho civilizador em África e por aspirar a uma República democrática. Comprometeu a carreira, sofreu a prisão e o desterro, mas não transigiu.
Em 1930, Augusto Casimiro ainda procurou estabelecer uma ponte entre o regime republicano e a Ditadura Militar, com o apoio (ou pelo menos com o conhecimento) do Prof. Manuel Rodrigues, então ministro da Justiça. As ideias de Augusto Casimiro sobre as colónias tinham sido expressas em artigos publicados no Diário de Notícias e encontraram algum eco junto de elementos da ditadura como o próprio Ministro da Guerra da época, Namorado de Aguiar que, em privado teria mostrado concordância com as ideias expressas pelo militar republicano. 

Devido às suas actividades oposicionistas foi preso em 1 de Abril de 1931, na sequência do seu envolvimento na Revolta da Madeira e julgado tribunal militar especial em 27 de Maio de 1936.

Por se opor ao regime nacionalista, esteve preso na Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, na década de 30, regressando a Lisboa, em 1936, graças a uma amnistia. Um ano depois, foi de novo reintegrado no Exército Português, mas como reserva. 

A experiência militar marcou a sua escrita, especialmente em Nas Trincheiras da Flandres (1919) e Calvários da Flandres (1920). Como autor de poesia, ficção e textos de intervenção, em que manifestava a sua filiação no ideário republicano, o escritor publicou ainda, entre outros livros, Para a Vida (1906),A Evocação da Vida (1912), Primavera de Deus (1915), A Educação Popular e a Poesia (1922), Nova Largada (1929) e Cartilha Colonial (1936), obra na qual manifestou o seu desejo patriótico de afirmação de Portugal no mundo. 

De referir que Augusto Casimiro foi colaborador da revista Águia e cofundador (1921), dirigente e redator (1961 a 1967) da revista Seara Nova, principal órgão de comunicação que se oponha ao regime de Salazar e aoEstado Novo.

Manteve a sua ligação à oposição democrática ao Estado Novo, tendo integrado o Movimento de Unidade Democrática (M.U.D.) em apoio à candidatura presidencial de Norton de Matos. Participou em 11 de Novembro de 1950, numa sessão para assinalar o armistício da I Guerra Mundial, sendo um dos oradores convidados da sessão que se realizou no Centro Republicano António José de Almeida, juntamente com Mário Soares, o general Ferreira Martins, Maria Helena Mântua e Alves Redol [vide relato descritivo de Mário Soares in Pacheco Pereira. Álvaro Cunhal Uma Biografia Política. O Prisioneiro (1949-1960), Círculo de Leitores, Camarate, 2001, p. 130-132]. Em 1958 foi um dos apoiantes da candidatura de Arlindo Vicente à presidência da República, sendo membro da comissão central da respectiva candidatura. Fez parte também da tertúlia que reunia na pastelaria Veneza, em Lisboa, nos finais da década de 50 e inícios dos anos 60, onde se juntavam habitualmenteFerreira de Castro, Julião Quintinha, Roberto Nobre, Luís da Câmara Reys, Mário Domingues, entre outros. Privou com Teixeira de Pascoaes(seu conterrâneo), Jaime Cortesão (seu cunhado), Raul Brandão e Raúl Proença, entre outros. 
Colaborador regular de variados órgãos da imprensa periódica, dos quais conseguimos localizar os seguintes: A Águia, Alma Nova (Faro-Lisboa, 1914-1930), Amanhã (Lisboa, 1909), Atlântida (Portugal-Brasil, 1915-1920)Azulejos (Lisboa, 1907-1909), Boletim Geral das Colónias, Coimbra dos Poetas (Coimbra, nº único, 1913), Conímbriga (Coimbra, nº único, 1923),Cultura (Lisboa, 1929-1930), O Diabo (Lisboa, 1934-1940), Diário de Lisboa,Diário de Notícias, O Domingo (Angra do Heroísmo, 1909-1911), Gente Nova (Coimbra, 1912-1913), Gente Nova (Lisboa, 1922-1923), Ideia Livre(Porto, 1911-1916), Ilustração Popular (Porto, 1908-1909), A Manhã (Lisboa, 1917-1922), Mocidade Africana (Lisboa, 1930-1932), A Nossa Revista(Porto, 1921-1922), Notícias da Madeira (Funchal, 1931), Panorama (1940),Portas do Sol (Santarém, 1917), Portucale (Porto, 1928-1966), Portugal em África (1894-1910; 1944-1973), Província de Angola, A Rajada (Coimbra, 1912), A Revolta (Coimbra, 1922-1924), República, Serões (Lisboa, 1901-1911), Seara Nova, Tempo (Lisboa, 1975-1989); Tradição (Coimbra, nº único, 1920), Tríptico (Coimbra. 1924-1925), A Vida (Porto, 1905-1910), Vida Portuguesa (Porto, 1912-1915) e A Vitória (Lisboa, 1919-1922).

Augusto Casimiro colaborou na primeira série de A Águia com o pseudónimo de Maria de Castro (Mário Cláudio, “Um caso singular de Heteronomia: Maria de Castro”, Jornal de Notícias, 22-07-1980).
Prefaciou também a obra de Cruz Andrade, A perdição: contos, Tip. Semedo, Castelo Branco, 1957.

Enquanto estudante em Coimbra fez parte do Orfeão Académico.

Entre outras, publicou as seguintes obras:
 Para a Vida, 1906
 A Vitória do Homem, 1910
 A Tentação do Mar, 1911
 A Evocação da Vida, 1912
 O Elogio da Primavera, 1912
 A Primeira Nau, 1912
 À Catalunha, 1914
 Primavera de Deus, 1915
 A Hora de Nun'Álvares – versos , 1916
 Nas trincheiras: fortificação e combate (co-autoria com Mouzinho de Albuquerque), 1917
 Nas Trincheiras da Flandres (com desenhos de Diogo de Macedo e Cristiano Cruz), 1918
 Sidónio Pais": algumas notas sobre a intervenção de Portugal na Grande Guerra, 1919
 Calvário da Flandres: 1918, 1920
 Oração Lusíada
 Os Portugueses e o Mundo
 O Livro das Bem Amadas, 1921
 O Livro dos Cavaleiros, 1922
 Naulila: 1914, 1922
 A Educação Popular e a Poesia, 1922
 África Nostra, 1923
 Nova Largada – Romance de África, 1929
 Ilhas Crioulas, 1935
 A Alma Africana, 1936
 Paisagens de África, 1936
 Cartilha Colonial, 1937
 Momento na Eternidade, 1940
 Portugal Crioulo, 1940
 A Vida Continua, 1942
 D. Teodósio II [trad. do castelhano, da obra de D. Francisco Manuel de Melo], 1944
 O Segredo de Potsdam, 1945
 Lisboa Mourisca: 1147-1947, 1947
 Conquista da Terra: Hidráulica Agrícola Nacional Nun'Álvares e o seu Monumento
 Portugal na História, 1950
 S. Francisco Xavier e os Portugueses, 1954
 Portugal Atlântico – Poemas da África e do Mar, 1955
 Dona Catarina de Bragança: Rainha de Inglaterra, filha de Portugal, 1956
 Angola e o Futuro: alguns problemas fundamentais Obra Poética de Augusto Casimiro (prefácio de José Carlos Seara Pereira), Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2001;
 A Ocupação Militar da Guiné, na História da Expansão Portuguesa no Mundo, vol.III, Lisboa, 1942, pp. 359-362.

Augusto Casimiro era casado com Adelina de Sousa Casimiro. Do casamento resultaram os seguintes filhos: Ângelo Zuzarte Cortesão Casimiro, advogado; Pedro Augusto Cortesão Casimiro, médico; Mário Augusto Cortesão Casimiro; Jaime Zuzarte Cortesão Casimiro; Augusto Zuzarte Cortesão Casimiro. 

Augusto Casimiro faleceu a 23 de setembro de 1967, em Lisboa. Dias antes tinha sido submetido a uma cirurgia melindrosa no Hospital de Jesus. O seu corpo foi depositado no talhão dos combatentes no cemitério do Alto de São João.

Bibliografia Consultada:
- Farinha, Luís, 
República, Guerra e Colónias – um “destino” cruzado do devir português, IHC-FCSH, UNL;

- Fraga, Luís Alves de, Do Intervencionismo ao Sidonismo. Os dois segmentos da política de guerra na 1ª República, 1916-1918, Imprensa da Universidade, Coimbra, 2010;

- Leal, Ernesto Castro, MEMÓRIAS DA GRANDE GUERRA (1914-1918) NA “RENASCENÇA PORTUGUESA”, Cogitationes. Filosofia, Artes, Humanidades, Ano I, Nº 03, Juiz de Fora, dezembro/2010 - março/2011 

- Matos, Helena, Salazar. A Construção do Mito, 2 vols, Círculos de Leitores, Camarate, 2003;

- Pereira, José Pacheco, Álvaro Cunhal Uma Biografia Política. O Prisioneiro (1949-1960), Círculo de Leitores, Camarate, 2001.



2 comentários:

flash disse...

Augusto Casimiro viveu entre nós, na Qta da Morgadinha, no Lazarim. Tem alguma informação sobre a pernanência de A. C. entre nós?

Grato,
Fernando Miguel

Januário Esteves disse...

Realmente é verdade o Sr Capitão viveu na Qta da Morgadinha e eu e minha irmã além de outras crianças tivemos o privilégio de frequentar a sua casa entre 1965 e 1967.