domingo, 7 de novembro de 2010

oração de papel de jornal

Oração de papel de jornal




Ando neste mundo para inquietar os outros
De perturbação e fascínio
A reportagem do massacre
Duma dívida sobre o futuro
Cinco minutos de tiros, pânico e morte
Quem reagiu, condenou
A multiplicação
De verba para crescer
Dois monstros
Num fabuloso mano a mano
Contei 46 corpos
A pena capital
Sete gigantes
Dos contratos individuais
Da casa da sorte
A ideia era eliminarem-nos a todos
O ilustre desconhecido
Portugal ainda à espera
Porque dinheiro é caro
Reforço de poder
Leva a morte muito perto de Lisboa na melhor zona residencial de
Caxias
Com varandas viradas para o mar
Com garagem individual ou parqueamento colectivo
Subsiste o conflito
Ninguém conhece o nosso mundo melhor do que nós
Se gosta de ser diferente lembre-se que o seu
1º prémio é um Renault 5 e férias em Tróia
entre duas tenazes
já chegou o tempo do computador trabalhar para si
use o ás certo para ganhar
a antropologia do simbólico mal e companhia
e depois a moral uma agência de serviço completo
da solidão e das privações
super vantagens na tarifa
nova esquerda, o esplendor do século
inscrições abertas em centrais de natureza perdida
reconstruímos de novo
o pilar do seu investimento
é loucura premiarmos as pessoas só porque são nunca
já chegámos, conte connosco.

Januário

23/7/83



Januário

étereo

Etéreo



Balofo de ares e alheio
À esquina roçando o meio
Esdrúxula testa afinca
O olhar súbito que trinca
Imperial vicio que domina
A noite chega o dia culmina
Tretas, minerais chocos, podres
Caras nas vacinas dos odres
Reduz-se e atina enxerga de ócio
Poses mágicas de alheamento ósseo
Esqueletam-se sistemas, confins
Abstracções dispostas das luzes ruins
Climas saturados de ambiente
O caudal imenso de gente
Para onde se dirigem? Destino,
Em ti tocam todas as coisas como um sino
De aldeia, o acolher do povo
À comunhão, à ascese do novo.


Januário

4/6/83

barbeiro

BARBEIRO



No dia em que corto o meu cabelo
Sinto-me um anjo monótono e careca
Com o painel de estrelas sempre na mão esquerda
Tentando segurar o aparelho medidor da paciência
Mergulho bucólico e alcoólico
Na banheira antiga e portuguesíssima do Tejo
Sonhando apanhar os pirilampos que diminuem aos olhos
De observador iluminado com que seduzo as meninas
Que vão para a escola
No jogo florido da idade
Imaginar apanhar as bocas que nunca beijei
No dia em que corto o meu cabelo
Sinto um furiosíssimo aquecer abrasar-me as orelhas
Na telepatia surda dos pensamentos alheios
Nostalgicamente vendo as grades dos meus eus
Penteando-se nas retretes escritas no meio da necessidade
E então cabelos já soltos
Rodeiam meus pés na preguiça do fumo do cachimbo de prata
E fantástico das preces minhas sombras, árvores meus anseios
& sonhos na noite já deitados
pondo a escrita em dia na vaga perturbadora
dos não sonhadores
do seu dormir
& em outra comida recomendada por uma caixa metálica
inventa sonhar no meio dos gelados de cimento armado
no deserto planetário e vil do caixote de lixo
onde são deitadas as tentações do dia
com que eu cortei o meu cabelo
que era belo.


Januário

24-11-80

amor a quem a vida

Amor a quem a vida
Nosso sangue derrama
Fleuma dádiva tida
Esquenta o corpo quem ama
Cego por quem enlanguescia
Mudo a vulto berrava
Deitado assim dormia
Para outro lado se voltava.




Januário

80

a juventude e a dor

A juventude e a dor
Eis um mar de sargaços
Um sonho de amor
E o desastre dos percalços.



Januário

19/4/83

sábado, 6 de novembro de 2010

Pancada subalterna

Pancada subalterna nas camadas secundárias
Masturbações os contradizem, sedentas horárias
Que passeiam cavernosas pela rua máxima
Magnífica de tarados de dor próxima.
Só sabendo o estilo e suas técnicas
Quem fumo o inoculou espectador das cénicas
Fotografias das roupagens convencionais
Quem sou para mim são os demais.
Depois vem os estares perversos
A comprida língua de oráculos certos
Vomitar a ânsia do arrependido
O deambulante labiríntico das ruas perdido
Ora se acostuma a forma incerta cheia
De luar sem haver lua por achar teia
Estampilhada observação se torna real
Os lábios doces e frios me sabem a sal
Como quando a dar era urgente
Uma magnética separação impelia por gente
Único conceito assim detectado
O facto tão antigo sem mistério inebriado.



Januário

27/03/82

O bom do vizinho

O bom do vizinho
Pelas sete da manhã
Bebe um copo de vinho
Para ajuda da vida sã.
Gasta-se por caminhos iguais
De casa ao emprego
Sofrendo pelos metais
As relíquias põe no prego.
À noite a televisão
Fá-lo longe viajar
Sabe notícias e conhece como são
Grandes senhores a discursar
E pensando só
Julga conquistar o mundo
Em quimeras de sonho e dó
Navega mares sem fundo
Rotineiro em tudo o que faz
Na cama sua mulher deita
E adormece num sonho incapaz
De algo, súbito feliz, espreita.




Januário


3/82

Mãos devagar te levam

Mãos devagar te levam
E tu não dás por nada
Como dum cinzel purificador
A sombra é-te retractada

Para os Céus ergueste as crenças
Sem elas eras olvido
Num pranto com luz ao meio
No escuro quarto retido.



Januário

8/3/83

Mama em molho de manha

Mama em molho de manha
Emborca esta cidade toda
Embicantes de bico na moda
Dizem à luz o que não ama
Retesos presos à superfície
Enfermam um nada artífice
Cisão profunda cozendo as fraldas
Acaso dirrimente às baldas.



Januário


21/12/83

ANOS 80

DEIXO ALGUNS TEXTOS DOS ANOS 80...

domingo, 13 de junho de 2010

sábado, 12 de junho de 2010

Constança


Constança, sorriso de prata em por do sol

Irisdicente que da sombra irradia

A vida, fimbria selectiva de escol

A todos dá felicidade e alegria


Constança, quente e deliciosa

Que desorganiza mais sagaz

O despertar sentidos olerosa

Mais esperta que um rapaz


Constança,que constantemente

Solicita e bem aventurada

A nós nos diz, frequentemente

Qua a vida é para ser conquistada.




Januário


12-06-2010

Olho de Boi Cacilhas











quinta-feira, 3 de junho de 2010