quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Fado #1




FADO # 1





Exéquias desenrolam-se nos Prazeres,
Enquanto cabeças rolam nas Necessidades, AH, AH, AH
E o arqueólogo disseca as inúmeras cabeças
Flamejadas pelos estupefacientes, logo ali

Em frente à leitaria Nogueira, que afinal é alugada
Por dois irmão provenientes do Minho
Aturdidos pelo rap das longas esperas dos clientes
Em busca duma crise realmente violenta

E nas fímbrias vistas do rio, que em lata surge, resplandecente
Às cavalitas dos horríveis prédios construídos
Pelos sacerdotes da urbanização algures nas décadas
Da imbecilidade aguda dos emolumentos autárquicos

Surge agora pelas folhas caídas do Outono
Um cheiro a terra que imana dos feéricos
Motivos que levam a um balde de cal e um sino
Com que se arruma o assunto.




Januário Esteves

13-12-2007

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Os avoengos


Inspirado pelas memórias avoengas
Aturdido pelo migrar das gerações
Fui pelo desejo de carpir às cegas
O que em muitos foram cessões

Mas em todos encontrei o fito
Por que sofreram e porfiaram
Portugal, Portugal, foi o mito
Por quem no fim se entregaram


Viam longe, pelo matagal cerrado
O que mais adiante se aglutinava
Num pasmar constante, de ignorado
A memória cáustica, aplicava

Boas lembranças improcedentes
Que a nós nos lembravam
Os dizeres das mortas gentes
Que tanto nos avisaram.


Januário


29-11-2007

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Sagrações


Sagrações atropeladas
Em júbilo no asfalto
Na plataforma do descanso
As emoções são retiradas
Ao que berra mais alto
Presidiário do vil amanso.




Januário

4/3/86

Sim


Sim, hoje tudo transparece
De novas formas entrevisto
E o que foi, nos esquece
De sermos alma do corpo visto
Soletrando a pubescente candeia
Loucos de reflectir o caos
Os braços de consumir a ideia
Do que nos trouxeram as naus
Sim, tudo isso, hoje é nada
Frágua de nos sentirmos sós
Abandonados de fortuna tragada
O destino fosse a enxada
De chão lavrado fossemos nós
Certeza fecunda disseminada.



Januário

7/1/86

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

SURTO INFINITO


Surto infinito
Etapas em fuga
o coração lembra
Quase morrendo.





Januário

2/4/84

domingo, 23 de setembro de 2007

ad referendum



Ad Referendum a todas as propostas
Sobre aumentos de preços
Feitas pelo governo
Aos das águas bebedores
Não há meias medidas
A uma voz, ou nada, felizes os que não tem posses
Ou cadela nenhuma, não aceitandanto beneficios
À custa da liberdade
Não a mão mas o corpo é preciso dar, inteiro
Às coisas repetidas, acautelem-se as já usadas
Cárceres rigorosos permitem ao justo , julgar a mudança
A respeito de gostos e ironias
Aumentando a estagnação nos piores destinos
Pelo que as causas secretas das não coisas, imediatamente
Significam nada por entre a massa
Que nunca ultrapassa o fermento de si própria
Desesperando num favoravél lugar
Esquizofrénica a gente coberta de opróbrio
Vivendo as mais desgraçada existência
Do só consigo, escapa à inveja do mal sucedido
Nas lascivas emborcadelas do sangue das populações
Como uma babel de aglutinações fortificadas
Uma vez o mal, diz: - Levanta-te e caminha à cidade a ao Universo.



Januário

25/08/84
Rev. Em 23-09-07

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

tudo caminha


Tudo caminha
Em silêncio de música
Canção de súplica


A vida abre-se
A ti sonho distante
Meu estar enleante

Palmo de sentidos
Cobertos de cinzas
Os sentimentos banidos.



Januário

5/80

senhora vestida de preto


Senhora vestida de preto
corpo delgado sobre a largura
seu olhar de tão recto
enobrece sua figura
óleo vertido na paixão
da beleza descoberta em Olhão
de quem eterna fez Pousão.




Januário

20/1/86

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

folêgo


A vida é uma coisa desgraçada
Procurando a metáfora em mim
Dou pelo acordar da alvorada
Pelo insondável sem fim


Do tempo pavoneiam-se tristezas
Mas mais forte é a alegria
De ser apesar das incertezas
Um pouco mais justo dia a dia.


Januário

6-09-07

terça-feira, 31 de julho de 2007

O olho da palavra


Sons sem palavras, debitam o alarde
Das coisas que estão a acontecer
E nós ardendo na tarde
Buscamos algo para ser


Dizemos coração alto
Memória que se dane
Presos ao sobressalto
Do residual insane


Articulamos frágeis gestos
Entre o dia e o seu devir
Pantominas de bonecos
Que não tem para onde ir!



Januário Esteves

31-07-2007

(Bergman/Antonioni)

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Insubordinação


Subsistemas da irracionalidade instalam-se
Comodamente nas franjas da situação
Em surtos pragmáticos de ocultação
Os desesperos purgam o substancial
Ao homem que cercado vê quanto está só
Entre infinitos muros que o cercam
Como uma volátil chama que se apaga
Abandonado ao surto das intempéries
Eis que comunga o princípio da insubordinação
Dispersando-se múltiplo pelo atmosfera
Que já não controla, perfaz um voto radicado
Na antropologia das heranças recebidas
Pela tramitação das gerações.


Januário Esteves

8-06-07

sexta-feira, 1 de junho de 2007

É tarde


É tarde, e o urbanismo confina o social
Todos juntos formamos ninguém
Sem sociedade requeremos bárbaros
De outros vintém, alarde de ameaça
Se vive em amarra a terra de ausentes
Munidos de casa e automóvel e mais
Um carrossel de coisas inúteis
De pão sem farinha, carne atrofiada
Peixe contaminado, vinho adulterado
Nada temos e o corpo é que paga
Quando a cabeça não pensa
Ou talvez se esqueça a dor quotidiana
Mas ela perdura e arrasa até os mais
Supostos convencidos, esses
Sentados em belas poltronas de mordomias
Satisfeitas, embonecrados de fazer o inútil
Sucedâneo que a infância incrustou
De abominável prazer, o eu satisfeito
O verme que de si próprio se alimenta
Nas minúsculas partes do ser
Reduz a tudo começar de novo.



17/03/01

(Debussy)

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Hellas


No dia em que nasceste, tua mãe e eu
Passeá-mos a nossa ansiedade pelo emolduramento de quadros simbolistas
E fomos almoçar ao Sr. Frango à guia
Nessa canícula tarde de Agosto
Visitá-mos o Hospital do farmacêutico botanico
Por muitas vezes, até que por fim, tua mãe lá ficou
Entre companheiras de circunstância e enfermeiras empertigadas
Num compassado e progenitor ritmo, ansiá-mos pela tua vinda, breve.




Januário

14 a 16-08-04

P/C+A

gratius



encontro eterno



nas trevas a existência persistia
e ao fundo de mim a luz não chegava
e eu triste e só em bocados subsistia
no desespero que me atormentava



então de pujância esperançosa
apontei todo o meu instinto para o céu
foi, quando tu, apareceste ditosa
e eu, pobre de mim, deixei de ser eu



por isso te quero ainda mais
quero-te como sempre quis alguém
quero-te, por seres jamais
o que se dá por troco de ninguém



mas agora ó mulher quero
de todo, o teu segredo alcançar
pois se a vida nos faz são e vero
é para, ainda mais, te amar.







januário


03/06/03

para a nokinhas

ana cruz (minha namuladinha, eh,eh)

sexta-feira, 23 de março de 2007

Primavera


Sentemo-nos então sobre o verde e languidamente
Olhemo-nos com sofreguidão o corpo transido
Pela incomensurável emoção que nos alcança
Enquanto sobre a paisagem a luz envolve
Agora a sombra de nós dois comprimidos
Num apertar de abraços, num roçar de pernas
Num tocar ao de leve nas mãos pendentes
Sobre a erva que desponta flores em cores
Tridimensionais, e num sussurro sentimos, ouvimos
E dizemos; - É Primavera!

quinta-feira, 22 de março de 2007

Arritmia


Obliquas paredes e frontões
desenham o cenário quotidiano
e ali surge o meridiano
das sonhadas tentações
a cavaleiro da escadaria
o coração arrefece
e porque já não apetece
ser luz de outro dia
mas lá se aguenta
sobre a vertente trapezoidal
ainda clama pelo natural
doer que o atormenta.

sábado, 10 de março de 2007


Caudaloso instinto de vida
É o que leva toda a razão, sempre que ausente a emoção
Vislumbra sobre a tácita concordância
O afligir em que permanece a silenciosa espera da nossa vez
Digerindo os anos como números de quadro exibicional obsceno
Plantado de figuras sem rosto que nos cantam laudas e impropérios
Nos vigiam os sonhos abusando de nós próprios
Nas escuras e dilaceradas margens do nosso entendimento
Repousam emergentes as raízes do ser.



2/10/99

Para quem vive na cidade
A mãe de todas as promoções
Ganha hábitos de indigente voluntário
Tudo lhe é oferecido pela imagem dos outros
Que nos confunde no desespero da circunstância
Periféricamente situado entre as franjas da situação
Alguém se aproximou e disse; - Mas afinal o que estamos aqui a fazer
Ousar ser, quão simples é ser, o que não se é
Como maldição perdura a negra luz que se apaga e em nós acende
Outra vivência seria necessária entre as brumas do passado
Procurar as lutas que sustentaram a raça
Catalisada entre o fossar da sobrevivência.

Morrer a vida e renascer na escrita
Eis o destino da predestinação repleta de dores
Nada sobra do volume que as coisas então tiveram
Como bolas de sabão frágeis e coloridas ao Sol
Que nos queima a miragem o vazio acrescentado
Em que destemperadamente porfiamos na tentativa
Única de existirmos sobre a falésia
A liquida sucessão do comprar e vender a imorredoira emoção
De amargura carregado pelo insucesso da causa
Que era a felicidade que se pretendia
Mas algo obscuro transfigurado tomou posse como um Deus proscrito
Que nos acaricia os desejos
Paridos de luxúria os olhos como Sóis de torreado Verão
Embalamos na brisa fresca de uma tarde calma
Comendo queijo e vinho e mordendo tua língua sedosa
Éramos como Deuses que se amam



3/10/99

Dê-me Deus forças para sustentar isto
O não se vê mas está em nós
O desassossego arcar bem quisto
Ridicularizar as febres altas a sós

Ser no momento a última sublimação
De quem se entrega sem mais quê
Residindo em sangrar o coração
A luz que o alumiava já não vê

Procura o disfarce da Noite, incógnito
Cambaleia entre razias

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Recomeçar



A vida não faz planos, acontece simplesmente
A galope sobre esses verdes prados, essas
Nuvens cinzentas, esses prédios altos, qual altaneiros galinheiros

Onde apesar dela, todos, mal ou bem, se dão
Num puxar o saco, num rebentar as costuras
Tosse um murmúrio de insubordinação
Lateja o feroz desejo e sem planos tudo se congemina para o momento
Sublime de cidadão contra cidadão, comunidade contra comunidade,
Cidade contra cidade, país contra país, países contra países
E todas as nações turbilham para serem uma só

Um amontoado de acontecimentos cheios de presente.



Januário


03/02/01

(chostakovich)

lunismática


A Lua na sétima casa cria a desordem
De mim, pois sonhei o outro, que sou eu
Um sujeito pulsado por compulsivas tentações
Em nevruras de encharcamentos sociais
Pautado por uma emoção incomensurável
Que desce aos infernos da comiseração
E por lá fica até que a Lua se desloque.



Januário


7/8/00

Frenética alegria


Canto o pesar com alegria
Já nada sobre mim viola
O encanto da melancolia
O rebuçar quanto assola

À alma o frenético acaso
Pouse qual columbina
Do riso que dá aso
A buscar lamparina

Ou outra vegetal ideia
Daquelas que nos transpira
E a prática obsoleta
Pusilânime nos dá a ira

E para quê se acontece
Amar perdidamente
O ser, um ser, que nos falece
Amar perdidamente.



Januário

14/02/00

Coisas


Coisas sem importância nenhuma atravessam os ares
Equidistante da sobranceria o algoz vive entre negras
Tessituras de aflorado cognitivo que nada redime cantares
À noite escura e o dia solarengo, a vida entregas
Quem dera em tudo dissolver o que nos aproxima
Dar aquele ou a aquela a luz a luz que nos ressalva
Por ceder se ganha, dizei a coisa mínima ou máxima
Por lutar de justo a honradez , fá-la, ela nos salva.




22/11/00


Januário

(Scriabin)

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

mainstream


Apoquentada a alma em sóbria distorção, de coriáceas mazelas
Se reacende a vida, mas só no aconchego do coração o infinito permanece.




Januário


28-06-06

Prisioneiro


Tecem os dias uma inexorável teia de tédios mortos e raramente sabemos sair dela, presos que estamos à fria e impotente desilusão de desejos não cumpridos.



Januário

18-07-06

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007


Inunda o Sol o corpo em sombra
Letárgica permanece a vontade
Já sem fio de horizonte, arde
O mar de ideia na onda tomba
Despojar sentidos com sofreguidão
Inconsciente quase nada de tudo
Pousio às guerras de escuridão
Promulgar exorbitâncias de veludo.




Januário

6/3/98

O que sou a mim mesmo me pergunto
E nada enxergo que me explique
O frémito terreno em que sobrevive
A manha desordeira do unto
Ultimo aconchego se transmuda
Em odioso cenário merdoso
E a alma o corpo vê odioso
Voluntário dar-se à cicuta.



Januário

18/1/95

Já dentro dos ventos e das marés
Fulminado fui pela dose excessiva
Tive o medo arrojado a meus pés
Excedi de mim a ausência possessiva

Em claro deambular prossegui
Tamanho ardor em tarefa inoportuna
Pus-me a chorar a dor e gemi
A guerra antes da fortuna.





Januário


1994

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Parabéns a nós


Olá minha querida, hoje fazemos quatro anos de companheirismo e dedicação, muitos parabéns.
Posted by Picasa

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007


Roí em nós uma perfuração contínua até ao âmago das entranhas
Uma umbilical ligação a todos os que já foram da vida retirados.

domingo, 4 de fevereiro de 2007


CATEDRAL


Foi ao índio que das pedras se fundou a missão
Consagrada à Imaculada Conceição
Torneadas as pedras pelo cinzel da fé
Em que gerações de ardor insígne pugnaram
Pela pedra fundamental que da Ibéria exauriam
Custódio de Sá e Faria, José del Pozo y Marquy
E o neoclássico , o Toribio.
Repousam entre as suas pedras os cívicos de outros tempos,
Feéricos tribunos de Deus e da Pátria que nela se inspiraram
E até de Papas foi visitada.
Anastacio Saraivia, José Gervásio Urtigas, libertadores
Nela temeram pela vida
Enquanto lá fora Agustín Barrios tinia acordes
Que só Andrés Segóvia reflectia.



Januário
21 -09-2004

200 anos da Matriz de Montevideu - Uruguay

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Dissimulação


Tudo se dissimula na perene ilusão de existência
Plantando formosos jardins em jazigos de pedra
Apenas a alma deixa lágrimas na eternidade.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007


Círculos de vivências fecham-se
Nada acompanha a pose que as acolheu
Para lá da retirada o sobre excedente dizima
As recordações recalcitradas num ângulo de pura putrefacção
No introspectivo silêncio.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007


A luz surge de todo lado, ofusca quem a enfrenta e cega, mas claramente se vê melhor ofuscado pela luz, pois para dentro somos obrigados a ver, o quanto dentro de nós resplandece como ser.

Sonhando vivemos mais a vida exortando fantasmas
De existências passadas entregues à combustão
Fulminante do desejo.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007


Partes de vida retiradas ao esquecimento instalam-se
Interrogando a intimidade, agora é a dolorosa aquiescência da morte dos entes queridos, e o nosso mesmo destino depois, mais adiante a consciência da maldade humana que tudo dizima escabrosa, em seguida os dias felizes no crepúsculo dos dias quentes, e o sorriso daquela que amamos e por toda a parte surgem novas vidas, acrescentadas.

Solitário

Solitário também é o encontro com o mundo,
Pois voltado para si o homem encontra o mundo,
Diverso e plural e ao mesmo tempo o mesmo.



Raíz-tempo




Raiz-tempo, emanação do fundo precedente, onde formámos o carácter
Pela vigília adormecidos fomos ao sono que nos oculta
Nele repousamos a esperança de quimeras sonhadas
E entre pulsações que vão e vêm, permanecemos excedentes de presunção
Dizimados no entardecer do apogeu.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Campos


Campos, árvores, flores, e os animais na terra estão para nossa companhia, sem eles a terra inócua teria sentido?

Noite


Eis a Noite, mãe acolhedora de todas as coisas, Nela tudo se dissimula e somos todos mais iguais

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Ana e Constança


Ainda para ti corro

Ainda para ti corro, logo que chamas
E noviço procuro o teu regalo
E às avessas fico quando clamas
Que maior prazer é dá-lo


E porque vou por ti sonhado
Abraça-me a melancolia
De possuidor ter deplorado
Em prantos de agonia


Amor que és sagrado
Para consolo da existência
Em ti tudo nos é dado
Não sem intermitência


Sinto ainda o teu sabor
Cada dia promulgado
Em saber resistir à dor
Sem da vida encarcerado.

Constança


Miríade

Só o sonho da vida afugenta a morte, mas só a morte nos liberta da vida que traz a morte, pois o sonho sonhado é o que permanece intermutável.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007